.:interlúdio:. Tom Jobim: Matita Perê

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Tom inventou Matita Perê e começou a gravá-lo no Rio. Não estava gostando do resultado. Achou que precisava de melhores músicos e maior qualidade de gravação.

(Ouvindo o disco, você logo entende que a exigência era enorme. O álbum alterna canções com música instrumental, indo com naturalidade do popular ao erudito).

Foi para Nova Iorque com os poucos brasucas que se salvaram da experiência carioca, bancou tudo do próprio bolso e fez um dos melhores álbuns de música brasileira de todos os tempos. Estava com 46 anos e tinha todo o prestígio e consideração do mundo.

Os temas escolhidos por Jobim para Matita Perê passam da leveza e doçura, das praias, barquinhos e garotas, para a natureza e lendas do um Brasil profundo, sertanejo. Ele compõe a partir de suas observações e da leitura de autores como Guimarães Rosa e dos poetas Carlos Drummond de Andrade e Mário Palmério.

Para o crítico musical Zuza Homem de Mello, “Matita Perê é um disco que pouco a pouco foi sendo compreendido, entendido e principalmente admirado. É um marco na carreira de Tom Jobim”.

A faixa de abertura traz aquele que se tornaria um dos maiores clássicos do compositor, Águas de março, cujo título foi retirado de poema de Olavo Bilac.

Já a faixa-título, uma suíte, cita o folclore e nasce de suas leituras, em especial do conto Duelo de Guimarães Rosa, que contou com a colaboração de Paulo César Pinheiro na letra.

Paulo César Pinheiro falou sobre a parceria: “O Tom me procurou, porque eu tinha uma música no Festival da Canção chamada Sagarana, parceria com o João de Aquino. Tom ouviu, ficou impressionado e me ligou dizendo que tinha ideias semelhantes àquelas”.

(Quando vocês se depararem com a próxima lista de Melhores Canções Brasileiras de Todos os Tempos, procurem por uma chamada Matita Perê. Se ela não estiver presente, abandonem a lista e falem mal do criador dela).

Matita Perê marca o início da temática ecológica na obra de Tom Jobim, que seguiria com força em discos como Urubu (1975), Terra Brasilis (1980) e Passarim (1987).

Ao mesmo tempo, evidencia-se o Jobim sinfônico, claramente influenciado por Villa Lobos, em faixas como Crônica da casa assassinada, baseada no romance de Lúcio Cardoso, outra suíte com quase 10 minutos de duração, feita para a trilha do filme de Paulo César Sarraceni.

Não deixe de ouvir. É falha grave desconhecer este disco.

Tom Jobim: Matita Perê

1 Águas de Março (Antônio Carlos Jobim) — 3:56
2 Ana Luiza (Antônio Carlos Jobim) — 5:26
3 Matita Perê (Antônio Carlos Jobim, letra de Paulo César Pinheiro) — 7:11
4 Tempo do Mar (Antônio Carlos Jobim) — 5:09
5 The Mantiqueira Range (Paulo Jobim) — 3:31
6 Crônica da Casa Assassinada (Antônio Carlos Jobim) — 9:58
a. “Trem Para Cordisburgo”
b. “Chora Coração” (letra de Vinícius de Moraes)
c. “Jardim Abandonado”
d. “Milagre e Palhaços”
7 Rancho nas Nuvens (Antônio Carlos Jobim) — 4:04
8 Nuvens Douradas (Antônio Carlos Jobim) — 3:16

Antônio Carlos Jobim – piano, violão e vocal
Claus Ogerman – arranjos (exceto faixa 3) e regência
Dori Caymmi – arranjo da faixa 3
João Palma – bateria e percussão
Airto Moreira – bateria e percussão
George Devens – percussão
Harry Lookousky – spalla
Frank Laico – engenharia de áudio
Ray Beckenstein – flautas e madeiras
Phil Bodner – flautas e madeiras
Jerry Dodgion – flautas e madeiras
Don Hammond – flautas e madeiras
Romeo Penque – flautas e madeiras
Urbie Green – trombone
Ron Carter – baixo
Richard Davis – baixo

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

O maestro soberano Tom Jobim ao lado de seu herói literário, no lançamento do disco Matita Perê, em 1973

PQP (com Teca Lima)

11 comments / Add your comment below

  1. Esse disco é antológico, os arranjos inicialmente foram elaborados por Dori Caymmi, e não Dorival como mencionado, e acabou ficando nas mãos do alemão Claus Orgeman, a influência de Villa-Lobos nesse disco é grande, Tom chega em certos momentos a incorporar o própio Villa, como em Trem para Cordisburgo, fundamental!

  2. Que coisa, isto é claríssimo e não me dei conta. Além de Villa, há Debussy. Mas será que o postei pela tristeza de não termos mais Villa em nosso blog?

    Pode ser.

    :¬((

  3. Olá, estou acompanhando o blog faz um mês, parabéns, só coisa fina. tenho este cd em uma outra capa, aliás, mais bonita. Não sei qual a história das capas. Sei é que este cd é incrível. A “Trem para Cordisburgo” traz a referência do Villa, acima citado, e também a explícita citação e homenagem ao Guimarães Rosa, nascido em Cordisburgo, e citado na música. Enfim, cd peso pesado. Acho que o mais incrível que o Tom fez. valeu!

  4. O Urubu de 1976 é outra obra prima, na faixas orquestrais, temos Saudade do Brasil, que poderia ser perfeitamente uma Bachiana brasileira do Villa, composta com aqueles acordes típicos das harmonias universais de Bach, fora Arquitetura de morar, que é bem impressionista, Valse, outra jóia e O Homem, isso tudo fora o Boto, Ligia, Correnteza e Angela, que são lindíssimas, Tom nesse disco chega também no nível de seu mestre, Villa-Lobos, recomendo!

  5. O Piá tem razão. A outra capa do Matita Perê é bem mais bonita, além de ter um valor histórico. Estou sempre passando por aqui e acredito que muitos pensam como eu: mesmo comentando pouco, nosso agradecimento e admiração pelo que vocês fazem é imenso. Mesmo na internet, qualidade e bom humor não é fácil de achar. E o que é feito aqui no PQP é admirável.

  6. Só para acrescentar: esta capa é do antigo LP na época do lançamento lá pelo início dos 1970. Este disco é fundamental onde se encontra toda a genialidade e influências de Tom.
    Parabéns PQP! E continuem assim.

  7. Este disco é fantástico, totalmente essencial. Obrigada pela postagem! E um apelo… Postem mais música brasileira, precisamos lembrar que ainda existe cultura neste país! Muito obrigada.

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