Anton Bruckner (1824-1896): Sinfonia Nº 6

R-7419421-1441138225-2995.jpegSigamos destemidamente em nosso empreendimento. Desta vez, surge a maravilhosa sinfonia número 6. Para ser franco, cada vez que escuto Bruckner, mais impressiono com Bruckner. Como alguém como ele, sujeito capenga, tímido, de alma frágil, compôs trabalhos tão atordoadores? Confesso que não gostava de Bruckner. Achava o seu trabalho demasiadamente extravagante, habitado por divagações forçadas. Cansava-me com facilidade quando ouvia qualquer das suas obras. O “repisamento”, uma impressão de circularidade, a força julgada, em alguns casos, desnecessária, afastou-me por muito tempo desse católico inveterado. Até que um dia, a música de Bruckner me abraçou com força. Não pude me desvencilhar de seu abraço fatal. Hoje, quando o ouço, faço questão de ligar o volume do meu som numa altura considerável. Sei que os vizinhos me olham obliquamente, mas não ligo. Outro dia estava ouvindo a Quarta Sinfonia do mesmo Bruckner com Harnoncourt e alguém comentou: “Só tu mesmo… Tu é doido!”. Forcei um riso de complacência, mas fiquei interiormente a rir em meu silêncio exultante. Cheguei a uma teoria: as sinfonias de Bruckner, Mahler e Shostakovich só podem ser apreciadas quando em volume máximo. Que os vizinhos reclamem; que continuem com os sorrisos de escárnio. Bruckner é uma galáxia e eu me perco nele. Boa apreciação!

Anton Bruckner (1824-1896) – Sinfonia No. 6 em Lá maior
01. Applause I
02. I. Majestoso
03. II. Adagio. Sehr feierlich
04. III. Scherzo. Nicht schnell – Trio. Langsam
05. IV. Finale. Bewegt, doch nicht zu schnell
06. Applause II

Münchner Philharmoniker
Sergiu Celibidache, regente

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Celibidache foi um grande talento e especialista em Bruckner.
Celibidache ensaiando: ele foi um grande talento e especialista em Bruckner.

Carlinus

23 comments / Add your comment below

  1. Ok, OK, sou um anormal. Por alguma razão, não gosto muito da 6ª nem da 8ª… Tudo bem, me matem; digam que sou un imbécil. Eu sei que sou.

    Tenho preferência pelas ímpares + a 4ª.

    Não há explicação, estou apenas escrevendo para dizer que vou tentar novamente gostar da 6ª enquanto aguardo a 7ª, que amo apaixonadamente, tanto como faço com a 5ª e a 9ª.

    Grande abraço.

  2. Sabe,
    em todos os livros de já li, sobre música, não li um que não tivesse mencionado: ” o Grande problema de Bruckner é a insegurança” Mas cada vez que ouço suas sinfonias, suas obras, e tudo, sinto um Bruckner tão determinado, tão pontual, que nem parece que dizem isto dele. É um compositor que admiro muito. Pelo fato de muito ser criticado e ainda assim continuar fazendo música, ou melhor, boa música.
    Abraços

  3. Pois é, concordo contigo. Mas ele era. Tanto que nos encheu de versões e revisões de suas sinfonias. É um saco e acompanhar. Coisa para musicólogo.

    Ele ficava reescrevendo e revisando ad nauseaum.

  4. ps.: Concordo Plenamente com vc: “Cheguei a uma teoria: as sinfonias de Bruckner, Mahler e Shostakovich só podem ser apreciadas quando em volume máximo. Que os vizinhos reclamem; que continuem com os sorrisos de escárnio. Bruckner é uma galáxia e eu me perco nele. “

  5. Adoro a Sexta. Do ciclo bruckneriano, foi a sinfonia de mais fácil gestação – nenhuma revisão, formas bastante claras, expressão até certo ponto concisa.

    Tirando a Segunda e a Terceira – e talvez a 00 -, eu gosto muitíssimo de todas as sinfonias de Bruckner. A Quinta é possivelmente a minha favorita, creio que principalmente pelo finale absurdamente virtuosístico.

  6. Confesso e reconheço a minha total ignorância com relação a Bruckner. Ainda não consegui penetrar na “galáxia” descrita pelo Carlinus. Talvez pelo fato de ter começado a ouvi-lo muito tarde, praticamente quando conheci o mano PQP, ainda nos tempos do Orkut, que começou a me mostrar os detalhes e nuances de sua obra. Tenho duas integrais dele, com o Jochum, e com o Günther Wand, e duas ou três avulsas, com o Karajan. Todas altamente recomendadas por experts no assunto, mas creio que ainda não dediquei atenção necessária à elas.
    Mas as férias estão chegando… e o dia do concurso também… depois disso, que venha a liberdade… e Bruckner.

  7. José Eduardo, vou tentar de novo. Veja bem, não desgosto da Sexta, apenas prefiro outras.

    Gabriel, volume bem alto, claro. Vizinhos, que vizinhos?

  8. Já fui o terror do prédio, escutando Bruckner et al no máximo volume. Uma vez um vizinho me xingou, gritando lá de baixo: “ópera de merda!”

    Não, não gosto de ópera, não ouço ópera. Mas entendi o recado 🙂

  9. PQP, moro em uma região de periferia da cidade, o local onde moro é densamente povoado por nordestinos que vieram tentar uma melhor vida no Rio de Janiro( entendam, não estou chamando ninguém de burro ou inculto aqui! ). Toda vez que escuto Mahler, Shosta, Bruckner ao alto volume ( como deve ser ) liga alguém aqui para casa pedido para abaixar o volume ”Desta porra de ópera” ( desculpem-me o linguajar ). O que eu posso fazer. Mas eu tenho meus modos de vingança. Quando eles colocam o ”reggae boladão” deles eu coloco a 8ª de Mahler a toda altura. Normalmente funciona.
    Abraços a todos

  10. Rs, é comum que chamem mesmo de “ópera” qualquer gênero de música orquestral (talvez até pra piano solo ou de câmara, vai saber…). Não foi Mahler quem disse sobre Bruckner que era meio Deus e meio pateta? Acho que mesmo hoje há quem o acuse de “ingenuidade inadmissível e constituição grosseira da forma”, enquanto muitos o julgam um gênio visionário, um “vanguardista prematuro”, conforme li dia desses… O própro Brhams se manifestou sobre suas sinfonias da maneira mais desfavorável, chamando-as de “embustes”, que segundo ele logo seriam esquecidos. Errou. Bom, é verdade que Bruckner representava para o pensamento musical daqueles que defendiam Brahms como o lorde-protetor do classicismo ameaçado pelo wagnerismo tudo o que se poderia querer exorcizar como ameaça à tradição musical, o que confere a esse tipo de opninião um contexto polêmico que o justifica. Quanto a mim, terei que ouvir Bruckner com muito mais atenção e boa vontade para chegar a me impressionar…

  11. Enfim, sobre Bruckner, o mais interesante é que, apesar de algumas audácias harmônicas (certo cromatismo), formalmente suas obras são bastante quadradas para a época. Muito longe de Liszt ou Wagner. Fora alguns tiques obviamente wagnerianos de orquestração, a maior dívida de Bruckner é com… Schubert!

    Forma-sonata cíclica, alternância maior-menor, um sentido tempo alongado, tudo isso Bruckner herda de Schubert. Tem uma cara meio exótica, mas no fundo é muito bem comportado. Dá para levar para conhecer os pais numa boa.

  12. Olha, José Eduardo, sua observação não parece estar muito de acordo nem com o que os contemporâneos do compositor sentiram e expressaram sobre sua música nem como a posteridade resolveu finalmente abordá-la. A esse respeito acho bem característica uma declaração de Max Kalbeck, biógrafo de Brahms e adversário de Bruckner: “Nenhum César recearia o compositor e, no entanto, ele só compôs alta traição, revolta e assassinato de tiranos.”

  13. Pobre ópera… por isso que está destinada à extinção.
    Se nem a turma do PQP, que é da mais miscigenada musicalmente possível, fala bem das óperas, o que dirá então os que não ligam pra música erudita!

  14. Não sei se eu concordo com você, José Eduardo. Se você pegar como exemplo a sexta sinfonia, que possui os dois primeiros movimentos na forma-sonata clássica, até poderia concordar. Mas em geral suas outras obras sinfônicas apresentam estruturas mais complexas. Assim como Mahler, Bruckner estendia a conclusão da lógica estrutural até o final das sinfonias, as quais se desenvolvem ao longo dos seus famosos três módulos/grupos, internos da sonata, e de sua métrica rítmica extremamente partitular — tanto que mais tarde esta viera a receber a denominação “ritmo de Bruckner”.
    Ademais, na quase totalidade de suas composições há a presença de dissonâncias, cromatismo, escalas particulares (como hexatonal) e/ou transformação/diagramação tônica.

  15. Caro gabrielclarinet, mesmo com seu tato, não deu pra deixar de notar um equívoco no seu modo de pensar. Proponho o seguinte: imagine-se morando em Ipanema, como eu morei. Agora ponha Bruckner em volume alto e espere. Tenho certeza que algum fino carioca de classe média vai te ligar e mandar desligar a porra da ópera. Ignorância não é um fator geográfico (ao contrário da arrogância).
    Me desculpe, não quero ser daqueles que fazem polêmica de graça e que se sentem ofendidos com qualquer besteira dita num forum da internet, mas sinto que seria mais justo não ter mencionado que se tratavam de nordestinos e nem da periferia.

  16. Prezados, como finalmente Bruckner deu o que falar aqui no PQP, gostaria de apresentar umas sugestões de gravações para quem tiver curiosidade:

    1- Solti e Chigago / Tintner
    2- Chailly e a RSO Berlin – difícil essa, hein? por ser inferior as demais, parece que os Regentes não se arriscam muito nela!
    3- Haitink – Nessa ele é imbativel! Tanto com a Concertgebouw quanto com Vienna (nessa eu gosto um pouquinho mais).
    4- Wand e Berlim / Bohm e Vienna – Esta por ser tão conhecida, existem dezenas de boas gravações, poderia citar mais dez; Karajan, Jocchum…
    5- Wand e Berlim / Tintner / Welser-Möst e London PO – Para mim a mais cerebral das sinfonias.
    6- Tintner – para mim, esta é a versão mais comovente que ouvi desta sinfonia. Alguns criticos dizem que os 3º e 4º movimentos são inferiores ao resto da obra, mas acho que não ouviram com Tintner.
    7- Karajan e Viena – Se até Lebrecht se curvou para esta gravação, quem sou eu… Gosto muito do Haitink com a Concertgebouw nesta também. Para mim a verdadeira Sinfonia Wagner e não a 3ª.
    8- Karajan e Vienna / Haitink e Vienna / Tennstedt e London PO / Celibidache e Munique – Minha preferida e se o Celibidache disse que esta música é o Zenite da Composição Sinfônica, quem sou eu…
    9- Bruno Walter e Columbia / Tintner / Giulini e Vienna – Colegas, que música… Cheia de misticismo. Bruckner rezava constantemente para que Deus deixasse ele terminar a obra. E deixou. Se Bruckner, em toda sua vida, tivesse composto apenas estes 3 movimentos já poderia ter sido considerado gênio.

    Mas quem tiver curiosidade de saber como seria o 4º movimento da 9ª. Naquele site abruckner.com tem duas gravações com o finale reconstruído, além de diversos registros históricos de LP’s.

    Um abraço!

  17. Mau, Haya, realmente Bruckner é um tema bem polêmico. 🙂

    Ainda o reputo como relativo conservador, que perpetua o formato da Nona de Beethoven o esticando para nele caber seu mundo sonoro bem particular. Ninguém em sua época apegou-se a uma só forma desse jeito. Nem Brahms, nem os pós-wagnerianos franceses (Franck, Chausson, d’Indy), nem os russos (Tchaikovsky, Borodin, Rimsky). E nenhum sinfonista posterior seguiu este caminho (Sibelius, Nielsen, Mahler). Strauss sentiu-se obrigado a voltar no tempo para beber diretamente em Liszt.

    Sobre gravações, é importante lembrar as interpretações de Jochum, tanto as pioneiras com Berlim e Rádio Bávara, quanto as tardias com Dresden. Sua Nona com Dresden é a melhor que conheço. Gosto muito da Quarta do Böhm, da Quinta do Wand (com Berlim) e do Skrowaczewski (que revela detalhes preciosos do Finale), das Sétima e Oitava do Karajan (com Viena). Tintner é imbatível na Zero, na Segunda e na Terceira (essas duas nas versões originais, edição Carragan na Segunda e Nowak na Terceira). A Primeira é uma sinfonia maravilhosa e gosto muito da gravação do Abbado (com Viena, versão “Linz”). Da Primeira, Chailly fez uma bela gravação da versão revisada, dita “Viena”, que reputo como menos interessante (com Concertgebouw). E é difícil fugir da celebérrima versão de Klemperer da Sexta.

    Eliahu Inbal fez curiosas gravações da Quarta original e dos finales reconstruídos da Nona. E Harnoncourt é genial na Nona “recompletada”.

  18. Rafael,
    depois de ler novamente o meu comentário eu cheguei a mesma conclusão. Não me senti ofendido. Ao ao contrário, isso só reforçou o que eu estava pensado. O que eu fiquei pensando depois disso foi: Como resolver o problema da música classica ? Não que esta seja um problema, mas como resolver o problema que ”os outros” tem com ela ?
    Abraços

  19. As diversas revisões das sinfonias, feitas pelo próprio autor ou por seu consentimento, não eram fonte de insegurança, pelo menos não eram completamente. Bruckner tinha o desejo enorme de ver suas obras sendo executadas e fazia concessões para atingir este objetivo. Sua vontade aconteceu de forma precária na época de sua vida, mas enfim hoje em dia ela se prevaleceu, a sua insegurança um dia ainda será lida como esforço, e ele foi e será cada vez mais reconhecido.
    Um abraço a todos.
    Hélio.

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