Johannes Brahms (1833-1897): Os Quartetos para Piano (completo) (Leopold / Hamelin)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Já que todos aqui estão depondo suas melhores pérolas para os visitantes, não serei eu a destoar de meus comparsas em vaidade. Hoje é o dia em que nosso poeta Alessandro Reiffer vai enlouquecer de vez. Pois estes quartetos para piano absolutamente perfeitos estão numa gravação que — perdoe-me, FDP — bate o ex-campeão Beaux Arts Trio. O mundo é assim: quando achamos que ouvimos o absolutamente perfeito, vem uns malucos e fazem ainda melhor.

Gente, li tudo o que vocês escreveram sobre Brahms e concordo com muitas coisas, mas o principal não foi dito, penso: Brahms é denso pra caralho. Brahms explora um tema como papai fazia. Ele é bachiano até a raiz dos cabelos. Aliás, meus cinco compositores prediletos são Bach, Beethoven, Brahms, Bruckner, Bartók, Mahler e Shostakovich, todos com mania de repetição, sendo que Mahler devia ser também maníaco-depressivo. Vamos a um TEXTO MAIS ORGANIZADINHO E BONITINHO sobre Brahms? Nosso colaborador eventual Milton Ribeiro o escreve.

Como se não bastasse o trocadilho infame que o nome Brahms sugere a nós, brasileiros, ele era filho de um contrabaixista de Hamburgo que tocava em cervejarias. E, a partir dos dez anos de idade, o pequeno Johannes passou a trabalhar como pianista com seu pai, nas tabernas. Não sabemos se estas atividades foram nocivas à saúde do menino, sabemos apenas que ele, mais tarde, fez bom uso de seu conhecimento sobre o repertório popular alemão. Brahms teve apenas dois professores, ambos durante a infância e adolescência. Estava pronto após estudar Bach, Mozart e Beethoven.

Começou a compor cedo e, antes de completar 20 anos, seu Scherzo opus 4 já tinha entusiasmado e revelado afinidades com Schumann, a quem Brahms ainda desconhecia. Foi visitar Schumann e então os fatos são mais conhecidos: primeiro, Schumann escreve em seu diário “Visita de Brahms, um gênio!”, depois publica artigo altamente elogioso ao compositor, fazendo com que o jovem Brahms tivesse a melhor publicidade que um artista pudesse desejar. Schumann o considerava um filho espiritual e a esposa de Schumann, Clara, chamava-o de seu “deus loiro”. Muitas hipóteses são possíveis sobre a relação entre Clara e Brahms, mas só uma coisa é certa: eles destruíram a maior parte das cartas que dizia respeito a ela. Porém, a versão de que houve um forte componente amoroso na relação dos dois tem tudo para estar próxima da verdade.

O Quarteto para Piano é uma formação que envolve um piano e três outros instrumentos. Durante o período clássico, usualmente os outros instrumentos eram um trio de cordas –- violino, viola e violoncelo. Para esta formação, Mozart, Schumann, Brahms, Mendelssohn, Schubert, Dvorak, Berwald e Fauré, entre outros, escreveram obras. Mais modernamente, Mahler e Messiaen utilizaram a mesma formação, sendo que o Quarteto para o Fim dos Tempos de Messiaen envolve piano, violino, cello e um clarinete em lugar da viola.

Brahms compôs três quartetos para piano. Curiosamente, o último foi o primeiro a ser escrito, nos anos de 1855-1856, quando o compositor tinha 22-23 anos e estava hospedado na casa dos Schumann. Só que ele foi revisado e estreado apenas trinta anos depois, em 1875. O segundo a ser escrito e primeiro a ser estreado é o que recebeu o Nº1, Op. 25 (escrito em 1861 – Brahms com 28 anos) e o terceiro é o Nº 2, Op. 26 (1862 – Brahms com 29 anos).

Brahms é compositor originalíssimo. Suas obras representam uma tentativa única de fusão entre a expressividade romântica e as preocupações formais clássicas. O resultado é uma música de grande densidade e intensidade. Foi, em sua época, adotado pelos conservadores. Ele colaborou bastante com esta adoção ao assinar um manifesto contra a chamada escola neo-alemã de Liszt e Wagner. Teve tal estigma imerecido até o famoso ensaio de Schoenberg: “Brahms, o Progressista”.

Em seus últimos anos de vida, Brahms afirmava que suas maiores obras de câmara teriam sido as da juventude e citava nominalmente o Sexteto, Op. 18, e os Quartetos para Piano, Op. 25 e 26, como as suas preferidas.

Então, fica a pergunta: teria ele comido Clara Schumann?

Johannes Brahms (1833-1897): Os Quartetos para Piano (completo)

Piano Quartet No. 1 in G minor, Op. 25 (39:08)
1. Allegro
2. Intermezzo: Allegro Ma Non Troppo – Trio: Animato
3. Andante Con Moto
4. Rondo Alla Zingarese: Presto

Piano Quartet No. 3 in C minor (“Werther”), Op. 60 (35:06)
5. Allegro Non Troppo
6. Scherzo: Allegro
7. Andante
8. Finale: Allegro Comodo

Piano Quartet No. 2 in A major, Op. 26 (50:12)
1. Allegro Non Troppo
2. Poco Adagio
3. Scherzo: Poco Allegro – Trio
4. Finale: Allegro

Intermezzi (3) for piano solo, Op. 117 (16:16)
5. Andante Moderato
6. Andante Non Troppo E Con Molto Espressione
7. Andante Con Moto

Leopold String Trio
Marc-André Hamelin, piano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

O Leopold String Trio sem Hamelin
O Leopold String Trio sem Hamelin

PQP

65 comments / Add your comment below

  1. Por algum motivo, os comentários do post estavam off, então copio o comentário do Alessandro do blog do Milton para cá:

    Alessandro Reiffer escreve: Milton, como os comentários lá no P.Q.P. estão off, vou comentar aqui, para te agradecer pela postagem. É, não conheço o Leopold Quartet, mas se tu dizes que são tão bons, tenho que conhecer, já estou baixando. Excelente o teu texto, e tens razão, desde a primeira vez que ouvi Brahms, pensei: mas essa música é muito densa! Ah, e acho que ele não comeu a Clara. Se tivesse comido, talvez sua música não fosse tão densa e pesada… Abraços!

  2. Mas Alessandro, segundo a biografia de Clara Schumann que folheei longamente na Argentina, comeu sim. E com frequência.

    Os indícios são muito claros.

  3. Comeu de se lambuzar!

    Está na Wikipedia: “He became very attached to Schumann’s wife, the composer and pianist Clara, fourteen years his senior, with whom he would carry on a lifelong, emotionally passionate relationship. Brahms never married, despite strong feelings for several women and despite entering into an engagement, soon broken off, with Agathe von Siebold in Göttingen in 1859. After Schumann’s attempted suicide and subsequent confinement in a mental sanatorium near Bonn in February 1854, Brahms was the main intercessor between Clara and her husband, and found himself virtually head of the household.

    After Schumann’s death, Brahms hurried to Dusseldorf and for the next two years lived in an apartment above the Schumann’s house, and sacrificed his career and his art for Clara’s sake. The question of Brahms and Clara Schumann is perhaps the most mysterious in music history, alongside that of Beethoven’s “Immortal Beloved.” Whether they were actually lovers is unknown, but their destruction of their letters to each other may point to something beyond mere privacy.[6]”

  4. É, o texto da Wikipedia não nos afirma nada, apenas deixa margem para boatos, e eu detesto boatos. Mas não conheço a biografia da Clara, e lá, segundo diz o PQP, a coisa deve estar mais “clara”, com o perdão do trocadilho infame. Seria bom conhecê-la. Bom, mas se comeu, melhor.

  5. PQP é ateu????

    Cara, não sabia.

    Bem, ninguém é perfeito. Só espero que não torça pelo Grêmio (um defeito de cada vez, por favor).

    Além disso, acho que é o único caso na stória de um filho de um deus ser ateu. Bach, perdoai.

  6. PQP e seus textos sempre afiados. =)

    Deixe-me pedir uma coisa pra você, por gentileza: será que teria como você postar de novo a integral das sonatas pra piano de Mozart, tocada pela Uchida? Ou pelo menos os dois últimos cds, que são os únicos que eu não tenho.

    Podendo ou não, valeu de qualquer forma.
    Aliás, bela postagem.

  7. Então somos dois, PQP

    Tem coisas na vida que nem todo o poder da Humanidade pode resolver ou consertar (tipo o Rapidshare)… então sobra apelar para o folclore

  8. No Nordeste inteiro fala-se “tu foi”. E por favor não venham atiçar preconceitos porque todo mundo que conheço de lá e pertence à classe alta fala assim também.

  9. PQP, tudo bem, pode ser então.
    É que como eu já tinha os três primeiros cds que você postou aqui — e não sei porque cargas d’água eu não baixei os dois últimos —, pensei em lhe pedir essa integral, para que meus arquivos ficassem completos. Infelizmente, procurei a internet inteira atrás desses álbuns, mas não os encontrei. Acho que só você os possui! huahuauhauhahua…
    De qualquer forma, muito obrigado.

  10. Clara Schumann ERA virgem, até que chegou Brahms, que também ERA virgem. Já o Robert nunca mandou ver, por isso se matou.
    PQP, parabéns por seu ateu, colorado e por possuir gosto refinadíssimo. São muitas qualidades para uma pessoa só! E viva o retorno dos comentários hilários e provocadores! o/

  11. CVL, tenho muitos amigos nordestinos, e sei que TODOS falam “tu foi”, e não me incomodo nem um pouco. Espero não ter soado preconceituoso, queria apenas pegar no pé do chatinho do Vanderson que adora corrigir os “deslizes” dos outros…

  12. Clara Schumann era virgem não, CVL.

    Brahms comia ela imaginando que ela era sua mãe (era 14 anos mais velha!), ao mesmo tempo que agredia o R. Schumann, imaginando que ele era seu pai!

    Daí a densidade de sua obra, carregada de sentimento de culpa.

    Elementar, meu caro CVL!

  13. Ao contrário de Wagner, né Avicenna? Que de tão fodão que era fazia aquelas óperas longas todas, para fuder a paciência e os ouvidos da plateia. Agora entendi a dicotomia entre os dois – Wagner e Brahms.

  14. Como rende essa conversa da dupla Clara Schuman x Brahms… vou dar uma olhada na excelente biografia que o McDonald escreveu de Brahms para ver o que ele diz.

  15. Olha, eu vou dizer uma coisa aqui. Ninguém vai gostar, eu sei. Quando vi essa postagem, e olhei que já tinham mais de 30 comentários, poxa, que coisa boa…

    Ledo engano. Comentário bom, quase nenhum. E os quartetos de Brahms? Ah, tá, é sempre bom um pouco de humor (humor? Qual humor?). Essa coisa de ficar “comeu ou não comeu” é uma bobagem típica de menino com esquistossomose.

  16. Virgem, com todos aqueles filhos do Schummy? Porra, vamos acabar fundando uma religião.

    Wagner era O fodão mesmo. Ainda hoje, o compositor… deixa pra lá.

    IvanRicardo, this is PQP Bach. Para discussões mais sérias, há fóruns e grupos aos quilos por aí e em várias línguas. Aliás, após muitos anos nesses grupos, optei por um tom leve por aqui. Por algum motivo, sempre dá briga. Então, acho melhor eu detestar Wagner tirando e lendo outros tirarem sarro de mim. Tudo na na boa, pois aqui, repito, é o blog Puta Que Pariu Bach, OK?

    Abraços.

  17. hahaha, dá-lhe, PQP! E, sem dúvida, a questão do “comeu ou não comeu” é muito séria para qualquer homem que se preze! Tanto que, mudando um pouco, a dúvida, no fundo, nunca foi “será que Capitu traiu Bentinho?”, mas, “será que Escobar comeu a Capitu?”.

  18. Mau, Wagner nunca me fez falta e cada vez que o ouço me torno mais indiferente. Pode ser uma limitação minha, admito.

    Porém, não sou indiferente a Pucciverdi. Detesto-os (à exceção do Réquiem de Verdi, claro).

  19. Bentinho filho de Escobar????????????

    HahAhHAHAhAHHAhAhAhHAhAHhaHhahaHhaH

    eSSA FOI BOA. mUITO BOA.

    Ou a memória falhou e o texto deveria ter sido “Ezequiel é filho de Escobar.”?

    Mas se foi uma piada, foi muito boa, mas muito boa meeeeeesmo. Vou contar quando for na Fliporto (amanhã).

  20. Ô, PQP. Eu falei da virgindade de Clara tirando onda. Foi pra zoar mesmo. Tão bela, a mulher não podia ficar casta – e com Brahms “no rato”, aí já viu…

  21. Agora virei defensor do Vanderson. Eu nem sabia que era contigo o negócio, só falei porque eu falo desse jeito e achei estúpida a observação.

    esses comentários já foram melhores, agora a maioria é tão esnobe quanto os frequentadores da sala são paulo. vou falar cu aqui só pra desmoralizar. cu. ninguém liga se vocês são inteligentões, se falam direito ou o caralho que seja, o legal aqui é a música, e só, não precisa falar bonito, é só ser razoável.

    Aliás ao invés de discutir a virgindade de figuras históricas, por que a gente não discute a virgindade de comentaristas com relação ao teor de chatisse dos comentários? Já tenho uns chutes aqui.

  22. Eu falo/escrevo “tu foi”, “tu vai”, “tu é” simplesmente porque considero dizer “tu és” e etc. um pleonasmo redundante. A expressão que considero correta é o simples “és”, (sem o “tu”). Aliás, Em alguns dos dicionários espanhóis que consultei vi uma nota que recomendava a supressão dos pronomes de 1ª e 2ª pessoa quando junto ao verbo (provavelmente por a academia espanhola também considerar redundante).

    E acho que a castidade deveria ser incentivada entre as fêias. Castidade em uma mulher bonita é um desperdício (obviamente excluindo as compromissadas).

  23. Pessoal! Para tirar qualquer dúvida. Acabo de chegar de um centro espírita onde o médium incorporou Clara que disse por todo o ecoar de seu ectoplasma que deu até cansar pro Brahms. O problema foi que durante a sessão baixou também o Schumann que entrou em desespero pois só agora ficou sabendo de tudo isso e nunca imaginou que seria um corno póstumo. Até o momento Brahms não apareceu mas deve estar convenientemente escondido no guarda roupa do centro espírita. Enfim, qualquer desdobramento dessa história eu informo todo mundo

  24. E por falar em Clara e Robert… alguém aqui já assistiu a Sinfonia da Primavera?!?!? A história é fiel? O Brahms é citado?
    Eu até tenho o filme em AVI, mas como o idioma é espanhol e não consegui legendas em português, não tive paciência para assistir, porém já consegui a legenda em espanhol e vou pedir pra alguma alma caridosa traduzir.

  25. Strav, o filme é ruinzinho, mas fiel à história. O roteiro se restringe ao começo da carreira de Schumann e, principalmente, à briga com Fredrich Wieck para se casar com Clara. Brahms surge no final da vida de Schumann. Sobre o triângulo amoroso, há um filme mais antigo, da década de 1940, chamado “Canção de amor”.

    (Uma curiosidade sobre o “Sinfonia da primavera”: no começo do filme, Schumann assiste a um recital de Paganini, que é interpretado por Gidon Kremer!)

  26. …Em certa ocasião…em meados do Sec. XIX…
    Brahms faz o seguinte convite a Chopin:
    – Ei Chopin, vamos tomar umas “brahmas” ?

    e Chopin responde:
    – Obrigado mas prefiro tomar um “chopinho”…

    (…que piadinha mais sem graça meu !)

  27. Eu sei que a discussão toda foi travada já há um bom tempo, mas só pra registrar: eu, tbm descrente em relação a deus, boto fé em Brahms. Comeu!

  28. Lembro de um excelente e raro filme de Patrice Leconte, chamado “Um homem meio esquisito”, no qual o voyeur Msieur Hire (Michel Blanc) brechava da janela a bela Sandrine Bonaire, ao som da linda melodia contida no rondó zingaresco do primeiro quarteto em sol menor. Sobre terem feito de clara Schumann a Capitu da história da música, creio que o velho Brahms não fornicou ali. Algo me diz que Clara abominava sexo, apesar dos muitos filhos com Robert – e talvez por isso odiasse o pobre gênio, que talvez fosse um sátiro. Digo isso por que, segundo li numa biografia de Clara, ela jamais foi vê-lo no hospício; indo lá somente quando ele estava morto. Além de ter destruído muitas partituras dele após sua morte. Sabe-se, contudo, que algum tempo depois ela arranjou outro homem. Também me parece que Brahms, desde a juventude, cultivava as andanças nos cabarés e preferia manter a “amada distante”. Mantendo-se como o chamado “anjo consolador” apenas no aspecto mais virtuoso do termo. rs

  29. En realidad tus compositores favoritos son siete (5 empiezan con B)…me gustaría que explicaras por qué no está Mozart entre ellos

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