J. S. Bach (1685-1750): Obras para Cravo-Alaúde, com Gergely Sárközy

Estas obras, que costumam ser interpretadas ao alaúde ou transcritas para o violão, aqui as ouvimos no curioso e quase esquecido instrumento Lautenclavicymbel, ou Lauteklavier, ou ainda Lute-Harpsichord: o Cravo-Alaúde. Para nós e nossos tempos um exótico instrumento, semelhante a uma grande tartaruga emborcada e dotada de teclado; as cordas de tripa e sonoridade de um alaúde com maior projeção sonora e timbre particular. Embora o mestre Johann Sebastian tivesse em seu círculo de amigos o grande alaudista e compositor Silvius Leopold Weiss e que tenha composto para o seu encantador instrumento, sabe-se também que Bach possuía um Cravo-Alaúde e por ele tinha particular apreço. Embora não tenhamos registros precisos sobre a destinação das suas peças hoje interpretadas ao alaúde, muito possivelmente algumas poderiam ter sido pensadas para aquele originalíssimo cordofone; o que a presente gravação só vem a reforçar, pelo caráter de algumas das obras, a exemplo da Suíte em Dó Menor BWV 997, cujo impetuoso Prelúdio e a extraordinária e rara Fuga Da Capo nos apontariam uma possível concepção para o teclado. Ressaltemos também a impressionante Sarabande desta Suíte, pois sua melodia é similar à do coral que conclui a Paixão Segundo São Mateus, só que uma terça menor abaixo.

Das poucas tentativas de se reconstruir e gravar num Alaúde-Cravo, um dos mais bem sucedidos resultados (para mim o melhor resultado) é o instrumento construído pelo musicista húngaro Gergely Sárközy, baseado em antigas cartas de lutenaria. Seu instrumento produz uma sonoridade bela, rica, encorpada e ao mesmo tempo suave. Quem for purista e tiver conhecido estas obras ao alaúde ou violão em interpretações ‘bem comportadas’, talvez venha a desdenhar, pois Sárközy interpreta com acentuada expressão e improvisa onde encontra espaço. Mas improvisa muito bem e logra convencer (o que nem todo intérprete de música barroca que improvisa consegue, soando às vezes engessado). Sárközy tem bom gosto e sua interpretação emociona. Pelo menos a mim vem emocionando há muito, que conheci a presente gravação do selo Hungaroton nos tempos do vinil (e sob estas pautas muitas garrafas passaram).

Preciso agora dizer que esta é a primeira postagem que faço no PQP Bach, um oasis de cultura e beleza nesses tempos do cólera. Fico enaltecido e grato pelo convite dos amigos integrantes dessa Távola Musical. Espero partilhar muito mais, retribuindo as felicidades que têm nos trazido com tanta generosidade e amor à música. Sendo assim uma primeira postagem, escolhi o nosso bom Pai João Sebastião para começar com sua bêncão.

Bach – Suites for Lute-Harpsichord – Gergely Sarkozy

1 Suite in E minor BWV 996 Praeludio. Passagio – Presto
2 Allemande
3 Courante
4 Sarabande
5 Bourree
6 Gigue

7 Choral Preludes from the Kirnberg Collection BWV 690 (b)
8 BWV 691
9 BWV 690

10 Suite in C minor BWV 997
11 Fuga
12 Sarabande
13 Gigue
14 Double

Gergely Sárközy, cravo-alaúde

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Gergely Sarkozy: um disco absolutamente matador
Gergely Sarkozy: um disco absolutamente matador

WELLBACH

10 comments / Add your comment below

    1. Gratíssimo e feliz por esta primeira postagem, obrigado pelas orientações e acolhimento nesta Távola Musical. rs Grande abraço a todos.

  1. EXCELENTE SURPRESA & um grande presente, essa sua primeira postagem, caro Well!

    Tenho esse disco em vinil, e pretendia digitalizá-lo e postar aqui um dia – mas a digitalização é trabalhosa e eu não tinha nenhuma previsão de quando poderia realizar.

    Agora vou matar as saudades de ouvi-lo! Pois coloco essas entre as interpretações mais arrebatadoras de Bach que já ouvi. Os puristas que se danem: eles não são verdadeiros músicos, são burocratas… Diz-se que Bach era ainda mais brilhante ao improvisar do que na música escrita (se é possível imaginar isso!), e não consigo imaginar que alguém improvise se não for arrebatadamente ASSIM.

    Costumo dizer que não acho graça em músico que meramente TOCA: gosto de músico que FALA através do instrumento; que DIZ a música. E este disco é um dos melhores exemplos que conheço nesse sentido.

    Portanto, obrigadíssimo, colega VERY WELL – e já estamos à espera de mais!

    1. Concordo com tudo, compadre. É mesmo um disco que ‘diz’ a que veio. Tanto Bach como Beethoven e Mozart foram exímios improvisadores, não é à toa que Beethoven escreveu tantas variações. No pós-romantismo a tendência foi de uma tiranização do compositor para com o intérprete. As obras se tornaram ainda mais complexas e o espaço de improvisação foi praticamente abolido. Vide o primeiro concerto para piano de Brahms, que nem tem cadenza (apesar de magnífico). O crivo dos finais do século XIX definiu muito do que veio a ser a chamada música erudita no século posterior, em diversos aspectos. Até mesmo na didática musical. “Very Weel” é ótimo rss. Abrs.

  2. Seja bem-vindo Wellbach!

    Nunca tinha ouvido falar desse instrumento (obrigado pela oportunidade!). Por curiosidade, consultei o Youtube para ver se encontraria algo a respeito e encontrei:
    https://www.youtube.com/watch?v=zAqrB3fflMo
    Meus cumprimentos pelo texto, bem escrito e com bastante informação pertinente. É através de textos dessa qualidade que eu, amante da música clássica – embora volta e meia folheie o “Pasquale Bona”, consigo interpretar o que baixo e ouço do PQP. Deveria ser incrível ouvir Bach improvisando!
    Ah! E saudações a Ranulfus, que há tempo não vejo por aqui.

    Até a próxima postagem Wellbach!

  3. Sê, bem vindo, WellBach!
    Texto muito bom e um álbum tão bom quanto. Já estou ansioso pelas suas próximas contribuições para este grupo de crânios que é o PQPBach e para toda a blogosfera!

    Vida longa!

    Abraço enorme!

  4. Wellbach,

    Seja bem-vindo!
    Que lindo debut!
    Como Ranulfus, tenho esse cd em vinil. Precioso!
    Agora o tenho digitalizado, para ouvir e ouvir e ouvir em todos os dispositivos eletrônicos que conseguirem reproduzir mp3.
    Muito grato e continue nesse excelente nível!
    Do seu criado,

    Rameau

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