Dietrich Buxtehude (1637-1707) – Obras para Cravo

Em 1703, em Arnstadt, aos 18 anos, meu pai, o imenso Johann Sebastian Bach, tomou posse do cargo de organista da igreja de St. Boniface. Durante sua gestão, fez uma viagem a Lübeck (uma jornada de 300 Km que fez a pé) para ouvir e receber conselhos do grande organista Dietrich Buxtehude. Era para ficar quatro meses com Bux, mas meu pai ficou cinco… Tal descumprimento o fêz perder o emprego e ele foi obrigado procurar outro, encontrando-o em Mülhausen, em 1706. Neste ano ele casou-se com sua prima, Maria Bárbara, que não cheguei a conhecer, tendo apenas tomado contato com Anna Magdalena, sua segunda esposa, mas essa é outra história. (Obs.: há uma correção nos comentários escrita pela filha de titio Bux.)

Buxtehude foi reconhecido principalmente como organista, mas foi bem mais do que isto. Em 1658, Buxtehude assume a função de seu pai, também organista, na igreja em Hälsingburg em 1658 e, em 1660 vai para Helsingor, e, posteriormente, para Lübeck, na Alemanha, onde é nomeado Werkmeister e organista da Marienkirche em 11 de abril de 1668, após concorrido concurso. Casa-se, em agosto desse ano, com Anna Margarethe Tunder, filha de Franz Tunder, seu antecessor nesta igreja. Esse era o costume da época, no qual o sucessor do organista da igreja deveria se casar com a filha do seu antecessor. A partir daí, e nos próximos 40 anos, Buxtehude entraria na parte mais prolífica de sua carreira, principalmente considerando que sua obra era praticamente nula até então.

Buxtehude ganha prestígio com a retomada da tradição dos Abendmusik, que eram saraus vespertinos organizados na igreja, idealizados por seu antecessor inicialmente apenas como entretenimento para os homens de negócios da cidade, previstos para ocorrerem em cinco domingos por ano, precedendo o Natal. Mas Buxtehude ampliou grandemente o escopo destes saraus e para eles compôs algumas de suas melhores obras, em forma de cantata, das quais se preservam cerca de 120 em manuscrito, com textos retirados da Bíblia, dos corais da tradição Protestante e mesmo da poesia secular. Também dedicou-se a outros gêneros, como solos para órgão (variações corais, canzonas, toccatas, prelúdios e fugas) e os concertos sacros. Todos os oratórios se perderam, mas guardam-se os registros de que existiram. Sem esquecer de Bach, em diversas ocasiões, foi visitado por compositores promissores da época, como Haendel e Mattheson, que o procuravam principalmente quanto à sua fama de organista.

Buxtehude é um compositor fundamental do barroco alemão. Foi uma espécie de pai espiritual de Bach. As obras deste CD são uma prova disso. Não pensem que as 30 Variações das Goldberg mais as duas árias não tenham nada a ver com as 32 variações da La Capricciosa. Ouçam esta obra e depois voltem às Goldberg. Está lá o agradecimento de meu pai ao grande Bux.

P.Q.P. Bach

Dietrich Buxtehude: Capricciosa (La) / Suite in G Minor

1. Toccata in G major, BuxWV 165 04:58

La Capricciosa (32 Variations on the “Bergamasca”), BuxWV 250
2. Variations 1 – 8 04:24
3. Variations 9 – 16 05:14
4. Variations 17 – 24 04:00
5. Variations 25 – 32 04:03

Auf meinen lieben Gott, BuxWV 179
6. I. Allemande and Double 02:59
7. II. Sarabande 01:06
8. III. Courante 00:46
9. IV. Gigue 00:45

10. Prelude in G major, BuxWV 162 05:26

11. Air with Two Variations in A minor, BuxWV 249 06:44

12. Prelude in G minor, BuxWV 163 07:31

Suite in G minor, BuxWV 241
13. I. Allemande 02:03
14. II. Courante 01:00
15. III. Sarabande 01:12
16. IV. Gigue 01:02

17. Canzonetta in G major, BuxWV 171 02:06

Glen Wilson, harpsichord

Total Playing Time: 49:19

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8 comments / Add your comment below

  1. Não… não seu P.Q.P. O infeliz do seu pai não passou cinco meses em Lübeck. Na verdade ele foi até lá para passar quatro semanas – ah! E ele percorreu quatrocentos quilômetros a pé – mas passou quatro meses lá em casa. Confesso, foram os quatro meses mais felizes da minha vida! Tola eu, muito toal! Achava que Johann estava a prolongar sua estada por minha causa, mas que nada ele estava era interessado em papai. Pena! Pois se eu no alto dos meus 38 anos pego um filezinho feit o Johann… humm… acho que esse blog nunca teria vindo a existência. Humpf!

  2. Caríssima Anna.Até o último minuto antes de postar fiquei em dúvida sobre o tempo que papai havia ficado lá. Não consultei livros, apenas a internet que, como sabemos, é bastante errática e enganadora. Sabia da história sem muitos detalhes. Fico humildemente com sua versão dos fatos, agradeço a correção e lamento que não tenhas pegado o filé (ou vitela) de meu amado e fugidio pai.Um beijo. PQP Bach

  3. Talvez seriam 471 mil metros (hoje pela A7, verificado no google-maps) que o PQP do Bach (João Sebastião do Rêgo, cfe. Dr. Dreher) percorreu. Ao que me conste, no retorno Johann foi hostilizado pelo Conselho da Comunidade Evangélica pelas loucuuuuuuras que ele executava ao órgão, aprendizado do véio Bux!

    Mas, que tal?

  4. Porém, se ele tomou a A2, via Magdeburg, foram somente 572 mil metros. O que daria, no mínimo, 20 dias de pernada. Que beleza de forma física, hein? PQP!

  5. É. Parece que as obras disponibilizadas há mais tempo estão apresentando alguns probleminhas. É uma pena.
    Bem que eu (e outros aficcionados, certamente) gostaria de poder deleitar-me, ouvindo obras clavicordianas o velho Bux.
    Fica para outra vez.
    Boa noite.

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